O tucano perdeu no seu Estado por 500 mil votos, num resultado decisivo para o desfecho da eleição presidencial. Lá, o PSDB errou muito, enquanto os petistas acertaram quase tudo
Em 2006, Aécio Neves (PSDB) foi reeleito governador de Minas Gerais com 77% dos votos válidos. No começo de 2010, deixou o governo do Estado, com 92% de aprovação dos mineiros. Nas eleições daquele ano, fez barba, cabelo e bigode. Elegeu seu vice, Antonio Anastasia, no primeiro turno, para o governo do Estado. Chegou ao Senado com uma votação impressionante. De quebra, ainda conseguiu eleger o ex-presidente Itamar Franco, que fechava sua chapa, para a segunda vaga do Senado, derrotando Fernando Pimentel (PT), recém-eleito governador de Minas. Assim, as contas de Aécio e dos tucanos mineiros para as eleições presidenciais deste ano eram que ele teria 2,5 milhões de votos a mais do que PT em Minas Gerais no primeiro turno. No segundo turno, a expectativa era de que Aécio venceria a petista Dilma Rousseff por mais de três milhões de votos.
Quando as urnas foram abertas, elas trouxeram uma desagradável surpresa para Aécio em sua terra natal. Ele perdeu por mais de 500 mil votos no segundo turno – algo parecido com o que já havia acontecido no primeiro. Uma vitória pela metade dos votos que imaginavam seus correligionários – e mesmo seus adversários, que prometiam a Dilma apenas uma honrosa derrota em Minas – já seria suficiente para levar Aécio ao Palácio do Planalto. Como explicar que Minas Gerais, quatro anos depois de consagrá-lo, seja a principal responsável por sua derrota para a Presidência da República?
Três explicações são dadas, tanto por petistas quanto por tucanos, para o fiasco de Aécio em Minas: o erro de Aécio ao escolher seu candidato (o ex-ministro Pimenta da Veiga) para o governo do Estado; o acerto do PT na escolha do seu (Fernando Pimentel), que conseguiu unir os petistas, divididos desde as eleições municipais de 2008; e o eficiente trabalho de desconstrução do governo de Aécio em Minas e de sua imagem pessoal feita pela campanha da presidente Dilma Rousseff.
Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, foi uma escolha pessoal de Aécio. Havia dois objetivos principais na opção feita por Pimenta. O primeiro era que o PSDB tivesse um candidato com currículo parecido, com passagens pela prefeitura de Belo Horizonte e pelo governo federal, com o de Fernando Pimentel, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, para que pudesse enfrentá-lo à altura. Sem nenhum outro nome, entre seus aliados do PSDB mineiro, com predicados semelhantes, Aécio resolveu trazer de volta à política Pimenta, afastado da vida pública há 12 anos. O segundo objetivo era apaziguar uma disputa interna no PSDB mineiro, entre os grupos de um de seus mais antigos conselheiros, o secretário de Governo, Danilo de Castro, e o presidente do diretório estadual, o deputado federal Marcus Pestana. A estratégia não deu certo.
Pimenta não cresceu na campanha para o governo do Estado – e isso acabou atravancando também Aécio em Minas. A cúpula tucana avalia que a campanha de Pimenta cometeu uma série de equívocos. Um deles foi a veiculação de uma mesma inserção de rádio por vinte dias consecutivos. Outro grave erro é que a campanha também demorou a vincular Pimenta aos 12 anos de governos bem-avaliados do PSDB no estado. O trabalho do marqueteiro Cacá Moreno provocou grande insatisfação entre os caciques tucanos. Em determinado momento, Andrea Neves, irmã de Aécio e uma das principais colaboradoras da comunicação de sua campanha presidencial, voltou para o estado com o objetivo de tentar reverter o cenário. Não conseguiu. Para alguns tucanos, Pimenta também perdera parte do traquejo que apresentava antes de se afastar da política. Isso teria ficado visível em seus desempenhos nos debates, prejudicados também por ele ter ficar afastado da realidade política de Minas.
Em contrapartida, os acertos do PT mineiro foram muitos. A começar pela escolha de Pimentel, que, antes da campanha, já aparecia bem nas pesquisas de intenção de voto há pelo menos um ano. Antes de ir para o governo Dilma, Pimentel deixara a prefeitura de Belo Horizonte com excelente aprovação. Ele chegou a ser eleito, pelo site inglês Worldmayor, o oitavo melhor prefeito do mundo. A pacificação do partido, rachado desde a disputa interna entre os grupos do ex-ministro Patrus Ananias e Pimentel em 2008, quando o PT apoiou Márcio Lacerda (PSB), ex-secretário estadual de Aécio, para a prefeitura de Belo Horizonte, também foi fundamental. Enquanto o PSDB não encontrou um nome natural para suceder Aécio e Anastasia, o PT já tinha o homem ideal para enfrentar os tucanos há mais de dois anos. Além disso, o PT soube trabalhar a candidatura de Pimentel, aproveitando-se das fragilidades do adversário e do fato de que Aécio não pode se concentrar tanto em Minas nessa eleição como de costume.
Os ataques pessoais a Aécio feitos pelo PT no segundo turno também ajudaram a barrar seu crescimento no Estado. No início do segundo turno, Aécio ameaçou deslanchar em Minas. Mas as pesada críticas ao seu governo, as dúvidas levantadas sobre os investimentos na área de saúde e as acusações de nepotismo feitas pela candidata Dilma Rousseff o detiveram. A estratégia petista deu certo. Dilma conseguiu bater Aécio justamente no único colégio eleitoral em que ele nunca, nos últimos quatro anos, imaginou que poderia perder as eleições.
Edmilson Moura.
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