Uma semana depois do resultado das
eleições americanas, o mundo começa a se acostumar ao conceito de
"presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump".
Praticamente desde o momento em que se soube que Trump era o ganhador
das eleições, circulam análises, memes e até brincadeiras sobre as mais
contorversas promessas de campanha do candidato republicano.
Entretanto, em poucos dias, e sobretudo
depois do encontro com o presidente Barack Obama na Casa Branca, Trump
suavizou várias delas.
Listamos alguns dos destaques:
1. O MURO NA FRONTEIRA
- O que disse o candidato Trump: "Vamos construir um muro na
fronteira com o México, um muro grande e bonito, e o México vai pagar
por ele".
A ideia do muro na fronteira foi um dos
pilares da campanha de Trump e se tornou um dos slogans mais repetidos
por seus seguidores nos comícios: "Construa o muro!".
Trump, além disso, jogava a pergunta para o público: "E quem vai pagar por ele?". A resposta era sempre a mesma: "O México!".
- O que diz o presidente eleito Trump: "Pode ser que em alguns locais seja uma cerca".
O que seria um muro intransponível pode se transformar em uma cerca em alguns trechos.
De qualquer maneira, o ex-prefeito de Nova
York Rudolph Giuliani, um dos conselheiros mais próximos a Trump,
afirma que o muro será construído mesmo que para isso seja necessária
uma ordem executiva, já que Trump "não vai quebrar uma promessa de
campanha".
É importante lembrar que já existem muros e
cercas em diversos pontos da fronteira entre Estados Unidos e México
que foram construídos por governos anteriores, inclusive o do atual
presidente Baracak Obama.
2. DEPORTAÇÃO DE IMIGRANTES SEM DOCUMENTOS
- O que disse o candidato Trump: "Os que entraram ilegalmente têm que sair".
Durante a campanha, o milionário insistiu
em repetidas ocasiões que propunha expulsar, no menor tempo possível, os
imigrantes sem documentos, estimados em 11,3 milhões nos Estados
Unidos.
- O que disse o presidente eleito
Trump: "O que vamos fazer é deter os criminosos e os que têm
antecedentes criminais (...) provavelmente dois milhões, talvez até três
milhões, e vamos tirá-los do país ou talvez prendê-los".
Conforme se aproximava o dia das eleições, a posição do agora presidente eleito começou a ser suavizada aos poucos.
Até que no último domingo (13), em sua
primeira entrevista para a televisão após a vitória, concedida à rede
CBS, Trump confirmou que o plano havia sido reduzido à deportação de
entre dois e três milhões de pessoas, "criminosos com antecedentes,
membros de gangues, traficantes de drogas".
Organizações como o Instituto de Política
Migratória consideram que Trump pode ter dificuldades para encontrar nos
Estados Unidos de dois a três milhões de imigrantes ilegais e que
tenham antecedentes criminais.
O Instituto estima que a quantidade de
imigrantes nessa situação seja em torno de 890 mil, incluindo pessoas
processadas por terem cruzado a fronteira de forma ilegal.
3. VETO TOTAL AOS MUÇULMANOS
-O que disse o candidato Trump: "Pedirei que haja veto total à entrada de muçulmanos nos Estados Unidos".
A "proposta" foi feita durante um ato de
campanha em dezembro de 2015, pouco depois do massacre de San
Bernardino, na Califórnia.
Trump disse que essa proibição total à entrada de muçulmanos deveria ser
mantida até que as autoridades americanas pudessem investigar o que
estava acontecendo.
- O que diz o presidente eleito: "Deve haver um exame extremo e minucioso de avaliação".
O que começou como um veto total passou
pouco depois a um "exame extremo" de cada muçulmano que queira entrar
nos Estados Unidos quando se tornou o candidato do Partido Republicano.
Trump também falou sobre a suspensão de um
acordo de reciprocidade de vistos "com qualquer país em que não se
possa fazer uma revisão adequada, até que se possa implementar
mecanismos comprovados e eficazes". Giuliani disse que a proibição
absoluta de entrada de cidadãos sírios está mantida.
4. REVOGAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DO OBAMACARE
- O que disse o candidato: "A mudança real começa com a imediata revogação do Obamacare".
Durante a campanha, o futuro mandatário
fez da revogação do Obamacare - mecanismo proposto pelo atual presidente
que dá acesso ao seguro de saúde a pessoas que não possam financiar um
plano privado.
Essa foi uma das propostas que Trump mais enfatizou. Chegou inclusive a afirmar que o faria em seu primeiro dia como presidente.
A legislação é repudiala pelos
republicanos, que alegam que ela impõe excessivos custos às empresas e
supõe uma intromissão indesejada do Estado nos assuntos de empresas
privadas e de indivíduos.
- O que diz o presidente eleito:
"Parece que isso é um dos seus pontos fortes, assim como a extensão da
cobertura a menores que vivem com seus pais, agrega custos, mas vamos
tentar manter".
Foi dessa maneira que Trump se referiu a
um dos aspectos-chave da reforma de Obama: que as seguradoras não podem
negar cobertura a pessoas por condições médicas pré-existentes.
Isso quer dizer que a visão completamente negativa que o candidato parecia ter do Obamacare não é a mesma do presidente eleito.
A mudança de opinião foi mostrada durante a visita de Trump a Obama na Casa Branca, quando falaram do assunto.
5. PROCESSO CONTRA HILLARY CLINTON
- O que disse o candidato: "Estaria presa".
Durante a campanha, outra frase entre as mais repetidas era: "Prendam ela!".
Seus apoiadores queriam ver a democrata
Hillary Clinton presa por seu suposto uso de um servidor de e-mail
privado quando era secretária de Estado.
Trump estava mais que disposto a apoiar seus pedidos, ou pelo menos começar uma nova investigação.
Durante o segundo debate presidencial, ele
disse a Clinton: "Se eu ganhar, vou dar instruções ao meu
procurador-geral para designar um promotor especial que investigue a sua
situação";
E em um dos momentos mais memoráveis do
encontro, Clinton disse que alguém com o temperamento de Trump não
deveria estar a cargo da aplicação da lei no país: "Porque você estaria
presa", respondeu.
- O que diz o presidente eleito: "Temos com ela uma dívida de gratidão".
O tom de Trump em relação a Clinton deu uma guinada radical desde que ganhou as eleições.
Em seu discurso da vitória, Trump
felicitou Clinton por uma campanha tão disputada e acrescentou que o
país tem com ela "uma dívida de gratidão".
Depois, disse que "não tinha dedicado muito tempo a pensar no tema do processo contra Clinton" e que tinha outras prioridades.
Na entrevista à CBS, indicou que "vai pensar nisso" e acrescentou: "São boas pessoas, não quero prejudicá-los".
6. DISTANCIAMENTO DA OTAN
- O que disse o candidato Trump:
"Muitos dos países da Otan não pagam o suficiente, e isso me incomoda
porque se os estamos defendendo pelo menos deveriam pagar por isso".
O republicano foi muito crítico da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) durante toda a
campanha. Ele a classificou como obsoleta e criticou o que considera
falta de compromisso financeiro dos aliados.
Ameaçou retirar o financiamento dos Estados Unidos se os demais países não cumprirem suas obrigações econômicas.
Ao mesmo tempo, Trump enalteceu o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o que alarmou outros países.
- O que diz o presidente eleito: tecnicamente Trump no se contradisse, mas Obama o fez em seu nome.
Obama enfatizou que Trump manterá seu compromisso com a Otan.
O atual presidente explicou que, durante o
encontro na última quinta-feira (10), Trump indicou que não sairá da
aliança de décadas.
"Existe uma sucessão permanente de eventos que flui sob as notícias do
dia a dia e que nos torna esse país tão indispensável quando se trata de
manter a ordem e promover a prosperidade no mundo",declarou Obama.
"Isso continuará sendo assim. Em minha
conversa com o presidente eleito, ele expressou um grande interesse em
nossa relação estratégica e, portanto, uma das mensagens que poderei
levar para a Europa é seu compromisso com a Otan, a aliança
transatlântica".
Em relação às mudanças climáticas, não foi
divulgada mudança na postura de Trump, favorável à retirada dos
investimentos que os Estados Unidos se comprometeram a fazer com a
Organização das Nações Unidas.
Entretanto, ainda faltam mais de dois meses para a posse do presidente eleito.
Por Edmilson Moura.