ILAÍDES
PADILHA, mãe do goleiro Danilo, chegou na quinta-feira dia 1º de
dezembro de 2016 em Chapecó para o velório coletivo que será realizado
neste sábado. Em princípio, não queria deixar Cianorte, no Paraná, e
viajar até a cidade da Chapecoense.
Muitos menos que o seu filho fosse velado com o resto do time. "Não
queria, chega desse negocio de avião, de viajar. E se o avião com ele
cai de novo?", chegou a questionar. Mas ficou sensibilizada com amor da
torcida aos jogadores, especialmente ao seu filho. “Chapecó está de
parabéns. Abraçou o Danilo quando ele chegou e não largou mais”. Nesta
sexta-feira, na Arena Condá, o estádio do time, furou a proteção de
psicólogos e foi entrevistada pelos jornalistas, a quem acabaria fazendo
questionamentos também. Perguntou ao repórter Guido Nunes, do SporTV:
- Chapecoense, uma equipe pequena que faria sua primeira final internacional
- Avião que transportava time da Chapecoense cai na Colômbia
- Cléber Santana, capitão da Chapecoense, entre os falecidos
- Lamia, a companhia aérea que transportava a Chapecoense
– Como vocês, da imprensa, estão se sentindo tendo perdido tantos amigos queridos lá? Pode me responder?
– Não... (balançando a cabeça)
– Não,
né? Posso te dar um abraço, em nome da imprensa? Para todos da
imprensa, que perderam seus amigos, aqueles pessoas que estavam lá
levando alegria, levando notícias, não só do meu filho.
Os
dois terminaram a entrevista abraçados e chorando. Foi o ponto de maior
comoção de uma tarde na Arena Condá em que Ilaídes falou sobre sua dor e
lembranças do goleiro Danilo. Disse que preferia responder a todas as
perguntas – algumas incômodas – da imprensa porque, de alguma forma, se
sentia reconfortada. Não queria ficar sozinha pensando no pior. “Se paro
de falar com vocês, desmonto. Não vou com os outros familiares porque
estão lá chorando. Não tenho mais lágrimas. Já secou tudo”. No final de
cada entrevista, acabava ela também amparando os jornalistas com sua
fala doce e distribuindo abraços. Muitos deles também perderam amigos e
colegas de profissão no acidente de avião, que acabou com a vida de 71
pessoas na madrugada de terça-feira, entre eles 20 jornalistas. Não
foram poucos os que terminaram em lágrimas.
Ilaídes
contou que não faltou quem a recomendasse não conceder mais
entrevistas, ou a orientasse a proibir "os paparazzis" de fazer guarda
diante da sua casa em Cianorte. Mas ela, que já tinha comovido o
jornalista ao inverter os papéis e renovar o sentido da mais clichê e
criticada das perguntas de tragédia – "como vocês estão se sentindo?"
–, mostrou, de novo, sua visão generosa sobre a imprensa: “Lá em casa
demos um apelido a vocês: os cornetas. Mas foram os cornetas quem
fizeram do meu filho um ídolo. Então não poderia deixar de dar uma
entrevista.”
Os últimos dias foram de informações desencontradas e muita angústia para Ilaídes e sua família. Danilo chegou a ser resgatado com vida do local,
mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Na manhã do acidente, seus
parentes chegaram a receber uma ligação que informava que Danilo estava
bem. Mas, com o passar das horas, as notícias que falavam de sua morte,
para logo depois desmenti-la, deixaram a situação confusa. “Foi maldade,
muita maldade o que fizeram. Acho que sou a mãe que mais sofreu”,
contou Ilaídes nesta sexta. Em outro momento, relatou estar vivendo um
pesadelo. “Ainda acho que ele vai voltar da Colômbia com o título”.
Índio Condá
Danilo
vivia dias especialmente festivos antes da tragédia. Na semana
anterior, o goleiro havia sido decisivo na conquista da vaga da
Chapecoense na final da Copa Sul-Americana. Na narração da FOX Sports,
feita por Deva Pascovicci – que também morreria dias depois com a queda
do avião –, o goleiro Danilo virou o índio Condá, personagem histórico
da cidade de Chapecó que dá nome ao estádio da Chapecoense. Uma bola
cruzada na entrada da pequena área caiu nos pés do número nove do time
adversário, o argentino San Lorenzo,
que girou para arrematar. Numa fração de segundos, Danilo evitou o gol
com uma leve esticada do pé direito. O narrador explodiu: “Danilo,
Danilo, Danilo! Foi o Condá! Foi o espírito do Condá que salvou essa
aí!”.
“Aquilo
é de arrepiar, né?”, diz ILAÍDES, sobre o momento. Ao ser então
perguntada sobre como ela via toda a mobilização em torno de seu filho e
o movimento para elegê-lo craque do campeonato brasileiro, lamentou:
“Eu queria que ele estivesse vivo. Que essa homenagem fosse feita com
ele debaixo das traves. Já imaginou se ele estivesse aqui, com todo
mundo gritando o nome dele, elegendo ele o craque do ano? Queria que ele
visse isso”.
MARCOS
DANILO PADILHA, 34 anos, iniciou sua carreira no time de sua terra
natal, o Cianorte, no Paraná. Fez carreira em outros clubes da região
até chegar ao Londrina, onde teve mais destaque entre os anos 2011 e
2013, quando foi contratado pelo Chapecoense. 2013 foi um ano simbólico
para o clube de Santa Catarina. É o ano da subida à série B do
Campeonato Brasileiro, época em que o clube iniciou sua ascensão
definitiva à elite do futebol nacional. "Ele vivia para o futebol, desde
pequeno. Era muito dedicado, um batalhador. Sempre me perguntava por
que eu não tinha feito ele mais alto para que ele pudesse chegar na
seleção. E eu dizia: 'se você batalhar muito, vai chegar na seleção,
mesmo sendo mais baixo", conta Ilaídes.
Para
DANILO, que viu tudo a partir das traves do gol, os três anos de
consolidação da Chapecoense também significaram o melhor momento de sua
carreira. Entre 2014 e 2015, chegou a ter sua contratação negociada para
o Corinthians,
mas ficou no Chapecó, onde virou ídolo e, agora, parte definitiva do
espírito do estádio onde um dia se transformou no próprio índio Condá.
“Ele já não é só meu filho. É meu anjo, meu ídolo, meu herói. E sua
família agora é essa torcida da Chapecoense. Queria poder abraçar cada
um deles", diz Ilaídes. "Ele deixou para mim um neto, o Lorenzo, que é a
xérox dele. É de onde tiro a minha força"
A mãe da gente é a Santa que a gente tem nesta baixa Terra.
Por Edmilson Moura
Fonte: El Pais
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir