Confirmação
da pena pode demorar até dois anos, o que beneficiaria o petista para
concorrer em 2018. Esta é a primeira vez que o Brasil condena um
ex-presidente na esfera penal
Agora que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro,
em um dos cinco processos a que responde na Justiça, o que irá
acontecer? O petista, primeiro ex-presidente condenado em uma ação penas
na História do Brasil, se diz perseguido pela Operação Lava Jato e
assegura que será candidato a Presidência da República em 2018. Além
disso, Lula ainda responde a quatro processos e poderá em algum momento
receber outra condenação – a desta quarta-feira dia 12 de julho de 2017
se refere ao processo envolvendo um triplex no Guarujá. Mesmo condenado
em primeira instância, poderá ser candidato e eventualmente eleito?
Para
responder a estas e outras perguntas, o EL PAÍS conversou com dois
especialistas: os juristas Walter Maieróvitch, juiz aposentado, e João
Fernando Lopes de Carvalho, advogado especialista em direito eleitoral.
Ambos explicam que, caso o Tribunal Tribunal Regional Federal da 4ª
Região (TRF4), localizado em Porto Alegre, não julgue os recursos até as
próximas eleições, Lula poderá ser candidato e eleito normalmente. Uma
vez eleito, caso não haja uma decisão do tribunal até o momento de sua
posse, o processo é suspenso, uma vez que o chefe de Estado não pode ser
julgado processos de antes do exercício do mandato. Leia abaixo o que
pode acontecer a partir de agora.
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Lula ainda pode se eleger a algum cargo político?
Walter Maieróvitch: Sim.
O ex-presidente foi condenado apenas em primeira instância, por um
órgão monocrático, pelo juiz Sérgio Moro. Para que a lei da ficha limpa
seja aplicada, o petista precisa ser condenado criminalmente por um
órgão colegiado, caso do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Se esta corte mantiver a decisão de Moro, o ex-presidente ficaria
inelegível.
João Fernando Lopes de Carvalho: Só
se torna inelegível a partir de uma condenação de um órgão colegiado em
caso de recurso ou se a ação tramitasse em julgado. Uma eventual
condenação precisa ser confirmada e divulgada pelo TRF ainda antes do
período eleitoral. Mesmo se Moro tivesse decretado prisão preventiva ele
ainda sim, mesmo preso, poderia ser candidato.
Quanto tempo pode demorar a decisão em segunda instância?
Walter Maieróvitch: O
TRF-4 pode levar de um ano a dois para dar a decisão final. Caso ela
não aconteça antes das eleições, Lula poderia se candidatar.
João Fernando Lopes de Carvalho: É
difícil prever. Esse tribunal demorou dois ou três anos para julgar o
caso de José Dirceu, o que permitiu que ele fosse solto. Em outros
casos, inclusive da Lava Jato, este mesmo tribunal vem sendo mais
rápido, julgando em cerca de um ano. Vai depender um pouco de quem venha
a ser o desembargador federal relator do processo. E isso só poderemos
saber quando entrar o recurso e ele for distribuído. Mas há tempo do
julgamento acontecer em um ano, antes das eleições.
Em um cenário hipotético em que Lula consiga ser eleito presidente em 2018, o que acontece com o processo?
Walter Maieróvitch: Segundo
a Constituição, o processo de um presidente por um fato ocorrido antes
do início do mandato fica suspenso. Lula voltaria a responder ao
processo só depois do fim do seu mandato.
João Fernando Lopes de Carvalho: Se
isso acontecer, teríamos duas coisas: primeiro, a situação de
inelegibilidade não existiria. Um vez eleito, o julgamento deverá
ocorrer até o momento da diplomação [posse do presidente eleito], em
dezembro de 2018. A partir desse momento, o processo criminal passa ser
sustado por determinação da Constituição. Ele não poderia mais ser
julgado em processos de antes do exercício do mandato. Depois de
terminá-lo poderia ser julgado. É ruim pro país se uma hipótese dessa
acontecer. O ideal, do ponto de vista de segurança institucional, é que
ele seja julgado antes.
Há alguma chance do ex-presidente Lula ser preso antes da confirmação da sentença em segunda instância?
Walter Maieróvitch: Não,
a chance é zero. Se o TR4 entender em manter essa sentença, é evidente
que o Lula poderá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça, então cabe
mais um recurso. No entanto, mantida a condenação pelo TR4 há um
entendimento do STF em admitir a execução provisória da sentença, e
nesse caso significa prisão de 9 anos e seis meses.
João Fernando Lopes de Carvalho: Há
uma possibilidade, mas é remota. Apenas se houvesse uma suspeita de que
ele, por exemplo, pudesse deixar o país. Ou seja, só em uma
circunstância muito especial que acho difícil que se caracterize. A
tendência é que ele só cumpra prisão depois de condenado em segunda
instância. O STF já decidiu que o julgamento por órgão colegiado já é o
suficiente para que um condenado inicie sua pena. Então, uma vez que o
tribunal confirme a sentença, Lula já poderia ser preso e começaria a
cumprir sua pena, mesmo que o Supremo em momento posterior analise seu
caso.
O que acontece agora com o triplex do Guarujá?
Walter Maieróvitch: O
juiz Sérgio Moro determinou o confisco imediato do imóvel, afirmando
que ele é produto de crime de corrupção e lavagem. Caso a condenação
seja definitiva, esse triplex vai para a União já que é objeto de crime.
O imóvel está ligado a propina decorrente de contratos ligados à
Petrobras.
João Fernando Lopes de Carvalho:
Ele deverá ser arrecadado pela União por ter sido produto de um crime.
Trata-se de um bem que foi adquirido de maneira ilícita. Segundo a
sentença, foi um crime de lavagem de dinheiro em decorrência de um crime
corrupção, o que significa que houve uma acréscimo patrimonial ilícito à
custa da União, que foi lesada.
Tempos de tramitação dos recursos da defesa e do MP
Walter Maieróvitch: Ele
deu a sentença e agora cabe recurso, que será examinado pelo TRF-4 mais
ou menos de um ano e meio a dois anos. Além da defesa de Lula, o
próprio Ministério Público Federal pode recorrer da sentença, se achar
que a pena aplicada deve ser maior. O MP também pode entrar com recurso
contra a decisão de Moro de absolver Lula da acusação de corrupção e
lavagem de dinheiro envolvendo o armazenamento do acervo presidencial.
João Fernando Lopes de Carvalho: O
prazo é de 15 dias para a formulação do recurso. Tanto a defesa como a
acusação podem recorrer. Ele foi absolvido no caso envolvendo o
armazenamento do acerto presidencial, então a acusação pode recorrer
desta decisão. É o comportamento esperado do MP. E a defesa deve pedir a
absolvição. Eles terão um prazo para pedir as contrarazões. Uma vez
apresentados os recursos, o juízes encaminham para o tribunal.
Imediatamente será designado um desembargador, que ficará responsável
por formular o julgamento. Com 218 paginas de sentença, pode haver
embargos, um recurso tanto da defesa como do MP para esclarecer algum
elemento sentença que as partes entendam que são um defeito. O tempo de
tramitação dos recursos depende do desembargador, que também deve
mandá-los para um revisor. São eles que mexem no processo. Mas dá tempo
de julgar em um ano, antes das eleições.
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Edmilson Moura
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