O DESAFIO DA CORRUPÇÃO

Vários temas sobre a corrupção são abordados em um brilhante artigo do advogado Abdon Marinho.
Por Abdon Marinho

Talvez de todos os problemas nacionais, a corrupção seja o mais grave. Em recente debate entre os presidenciáveis, a presidente-candidata exibiu números dando conta que a Polícia Federal, de 2003 até os dias de hoje, já fez milhares de ações de combate a corrupção. É verdade o que disse, assim como é verdade que poderia ter feito muito mais ações se não sofresse, assim como todo o serviço público, com a falta de estrutura. Vemos que apesar das operações policiais de combate ao crime, das leis mais severas, do fato de tudo que se faz ser praticamente à luz do dia, a corrupção não cessa. Os adversários chegaram a dizer, inclusive, é que há mais ação policial porque há muito mais corrupção no governo. E isso, também, é verdade. Nos últimos anos a corrupção no Brasil aumentou a ponto de a termos como uma instituição. É comum se ouvir que alguém pagou tanto de propina para esse ou para aquele servidor ou agente político. Ninguém pede segredo ao dizer que quem negocia as emendas de determinado parlamentar é o assessor fulano de tal ou que o parlamentar sicrano não aceita receber menos de 30% (trinta por cento) desta ou daquela indicação.

No Maranhão não é diferente, tanto que o que causou entranheza a alguns, na denúncia de malas pretas circulando nas madrugadas de um famoso hotel da cidade, no rescaldo da operação que prendeu o doleiro Youssef, não foi o fato em si, e sim o valor que apareceu de comissão no negócio: 5% (cinco por cento). Ouvi de mais uma pessoa, com indisfarçável ironia: Só cinco por cento? Não acredito nesta história, nunca a “taxa” foi só neste percentual. Tudo isso dito com a naturalidade de quem pede uma cerveja numa mesa de bar.

A corrupção chegou a um estágio tal que os próprios corruptores, os empresários, que cresceram e floresceram, oferecendo propinas a uns e outros começam a reclamar pelos cantos dizendo que não aguentam mais, que não têm como fazerem as obras contratadas e pagar os achaques a que são submetidos. A “taxa”, dizem, está além do suportável.

Nestas eleições o que mais tenho ouvido são pessoas se dizendo preocupadas não com a escolha deste ou daquele candidato pela população e sim, se esse ou aquele vai dar força no seu governo para pessoas com largo histórico de corrupção. Olham, não só para os candidatos, mas também para as forças que os cercam e demonstram receio.

Em matéria de corrupção, só não acredito que tenhamos atingido o limite porque sempre inovam em alguma coisa. Os recursos públicos não são suficientes para realizar as obras necessárias a população, mas servem para enricar os políticos. Essa é a visão de grande parcela da população e não é uma visão errada. Quanto não são os políticos brasileiros que entravaram na vida pública sem nada, “puxando a cachorrinha” e saíram “podres de rico”?

Proprietários de verdadeiros impérios? São inúmeros os casos, ninguém sequer consegue contar. Muitos passam os mandatos e não entregam uma obra de valia e, quando entregam alguma coisa é mal feita, custou o triplo do preço, sagraram os cofres públicos.

A corrupção se alastra por todos os cantos. Todos os poderes. Todo o serviço público. Não faz tempo era comum se ouvir que deputado fulano pretendia ocupar um um cargo no executivo para poder enricar. Hoje se ouve, também o contrário, que fulano ao invés de executivo, deseja ser parlamentar porque o “dele” é “limpo”, não tem preocupação nenhuma, só recebe e pronto.

E os demais poderes, estão imunes a isso? Claro que não. Dizem, até, com uma ponta de inveja ou ironia, que nos demais é que a “coisa” rola solta e com destemor. São notas aqui e ali que ninguém investiga, que não amedronta mais ninguém é que até levam na pilhéria como uma que li outro dia dando conta que gestores ou ex-gestores saiam de determinado local carregados de dinheiro ou com pendências resolvidas ou com promessas de solução, conforme fossem os resultados das urnas. É algo sério, muito sério, só comparável a informação de que se plantam os problemas para venderem – a peso de ouro –, as soluções. Dizem onde é, passam as características, fazem o retrato falado e é como se nada acontecesse. Nem sei se é verdade. Mas o silêncio obsequioso de todos – ou quase todos –, atesta que sim.

Os futuros governantes, que a cada campanha dizem que vão combater sem trégua a corrupção, precisam ir além das palavras. Para que o Brasil e o Maranhão saiam deste círculo vicioso faz-se necessário que formem governos competentes e honestos. Escolher auxiliares que não se deixem seduzir com o apelo do dinheiro fácil ou do enriquecimento sem causa. Esse será o primeiro desafio dos próximos governantes que estiverem comprometidos com um país e um estado mais justo.

A política – pela ação dos seu agentes –, foi sendo criminalizada ao longo dos anos. Nestes últimos se tornou uma atividade que as pessoas sérias repudiam. O que vemos são os mesmos políticos de sempre sem compromisso algum e muitos deles por não preencherem os requisitos necessários a se candidatarem colocam os parentes, filhos, esposas, noras, sobrinhos, amantes, qualquer um que se sujeite ao papel de preposto.

Hoje a política do estado, e acho que do país está cheia de dobradinhas de partes, pais e filhos, netos, como a passar o poder de pai para filho. O serviço público, o mandato , como negócio de família.

Ao momento em que isso ocorre, estadistas, homens com espírito público, pessoas com serviços prestados aos estados, aos municípios e a nação tornaram-se escassos na vida política brasileira. Em seu lugar, tomaram e preparam-se para tomar assento, uma “arraia miúda” que nada fizeram, nunca deram um prego numa barra de sabão e que estão famintos, ansiosos para roubarem os recursos da sociedade.

Neste contexto que a missão dos futuros governantes se torna mais desafiadora. Romper com o círculo de corrupção num ambiente onde os malfeitores estão fortalecidos e com um número bem maior de adeptos.

Faz-se necessário que se resgate para as funções do serviço público pessoas comprometidas, sérias, com espírito público e competentes a ponto de não se deixarem seduzir ou enganar. Entregar os negócios do Estado a estes que nada fizeram, além de enriquecerem nos cargos públicos, é o caminho mais fácil e rápido para o fracasso.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

E sou admirador do DR. Abdon Marinho
Edmilson Moura.

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