Beija-Flor ignora a ditadura Sarney

Do site Ucho.Info
Abafa na história – Nos dias em que a folia de Momo impera nessa descontrolada Terra de Macunaíma, a memória do brasileiro parece sofrer um longo e profundo processo anestésico, o que permite que fatos absurdos sejam esquecidos de forma inadmissível.
Na madrugada de segunda-feira (20), a escola de samba Beija-Flor, de Nilópolis (RJ), entrou na Avenida Marquês de Sapucaí sob o milionário patrocínio do governo tiranicida do Maranhão.
Responsável pelo destino do mais miserável estado brasileiro, Roseana Sarney, dias antes da abertura oficial do Carnaval verde-louro, tentou explicar o investimento de R$ 9,5 milhões no enredo da Beija-Flor, que levou ao sambódromo carioca uma homenagem aos 400 anos da fundação de São Luís, capital maranhense.
À sombra de um discurso típico de ditadores modernos, que apelam às vias transversas para viabilizar o culto à própria personalidade, a filha do presidente do Senado Federal, José Sarney, disparou: “Nosso [o do clã Sarney] objetivo é fortalecer o Carnaval e a cultura maranhense. Apoiar o desfile da Beija-Flor é uma maneira de ampliar a divulgação da cultura, das belezas e riquezas do nosso estado para todo o país, com a expectativa de atrair renda e emprego através do fortalecimento do turismo. A partir dessa iniciativa, os próximos carnavais deverão ser ainda mais empolgantes, com nossas brincadeiras tradicionais ganhando destaque e se consolidando no cenário nacional”.
Em todas as alegorias que se espalharam pela Avenida Marquês de Sapucaí, a escola de samba de Nilópolis decapitou a verdade histórica ao não retratar a tirania imposta pelo clã de José Sarney (algo de fazer inveja ao déspota Vitorino Freire), que há mais de cinquenta anos vem transformando o Maranhão em reduto de politicagem. A única citação, sem qualquer vínculo com o clã Sarney, foi a ala “Assombrosa Tirania”, que passou despercebida dos foliões.
É preciso reconhecer a beleza do desfile da Beija-Flor, assim como a justa e merecida homenagem ao carnavalesco maranhense João Clemente Jorge Trinta, o saudoso e competente Joãsinho Trinta, falecido em dezembro de 2011, mas ocultar as mazelas patrocinadas pelos ocupantes do Palácio dos Leões é induzir o brasileiro ao erro.
Em dado trecho do samba, a Beija-Flor tenta se inserir no cotidiano da capital do reino dos Sarney ao cantar “Meu São Luís do Maranhão / Poema encantado de amor / Onde canta o sabiá / Hoje canta a Beija-Flor”. Por lá, em São Luís, nem mesmo o sabiá canta sem a autorização expressa do clã que eclodiu a partir da praia do Calhau. Em São Luís, assim como em todo o Maranhão, canta um grupo de abutres, todos sob a batuta daquele que fez da cidade uma espécie de quintal particular.

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